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Em tempos de Coronavirus, vamos falar sobre Continuidade de Negócios?

Atualizado: 12 de ago. de 2021


O surto do novo Coronavirus, que começou na China em 31/12/2019 e que foi declarado como Pandemia pela ONU em 11/03/2020, expôs novamente o quão frágil é o equilíbrio econômico-social em nível global, trazendo à tona um tema cada vez mais relevante para a sociedade: a Continuidade de Negócios (CN para os íntimos).


Vivemos em um mundo onde pessoas e empresas estão interconectadas. Relacionamentos e dependências de negócios alcançam ramificações nunca vistas antes. Por essa razão, qualquer "espirro" na China afeta mercados do mundo todo (sem trocadilhos!!!).


Perdoe o tom de brincadeira. Sabemos que a coisa é séria.


Tanto é que, nos últimos dias, medidas drásticas foram tomadas por diversos países:

  • A Itália, em uma decisão que encontra precedentes somente na Segunda Guerra Mundial, restringiu a circulação de pessoas em todo o país. Bares e restaurantes fecham às 18h e eventos estão proibidos. Veja aqui.

  • Os EUA, em uma decisão unilateral, cancelaram todos os vôos do país com a Europa, com exceção do Reino Unido. Veja aqui.

  • A China, país mais afetado pela crise, quando a epidemia estava em seu auge, chegou a restringir a circulação de mais de 56 milhões de pessoas, impactando diretamente cadeias globais de suprimentos industriais e o comércio internacional. Veja aqui.

Os impactos sociais e econômicos são extremamente preocupantes:

  • Até 13/03/2020, o virus atingiu mais de 134.000 pessoas em todo o mundo, matando mais de 5.000 pessoas. Embora a taxa de mortalidade média de 3,5% seja inferior a de epidemias anteriores, como SARS, a população acima de 60 anos e com histórico de outras doenças crônicas é particularmente vulnerável, e a facilidade de transmissão do vírus é o principal fator de preocupação. Veja aqui.

  • Pela primeira vez em 124 anos, a Maratona de Boston foi adiada. A poderosa liga de basquete dos Estados Unidos, a NBA, suspendeu por tempo indeterminado os jogos da temporada. Um dos mais tradicionais torneios de tênis do mundo, Indian Wells, foi cancelado. Vários clubes de futebol europeus, entre eles PSG e Barcelona, suspenderam suas atividades. Vários eventos esportivos que ainda não foram cancelados, estão acontecendo com portões fechados. Veja aqui.

  • Os mercados financeiros globais entraram em colapso esta semana, com tombos históricos. A BOVESPA, que na segunda-feira, 09/03/2020, às 10:00h, estava aos 97.982 pontos, despencou, na quinta-feira, 12/03/2020, às 14:00h, para 69.013 pontos. Uma queda de impressionantes 29,5% ao longo de quatro dias. No caso brasileiro, além do Coronavirus, as notícias internas ajudaram a enterrar o índice ainda mais. Veja aqui.

  • A IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), estima que as perdas globais do setor fiquem entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões. A OCDE reduziu as projeções de crescimento da economia global de 2,9% para 2,4%. Se a coisa não melhorar, pode ir para 1,5%. Um desastre. Veja aqui.

  • No Brasil, o dólar americano chegou a passar de R$ 5,00 e além da queda na bolsa, várias empresas que dependem de insumos da China começam a oferecer férias coletivas a seus funcionários por não terem como produzir. O consumo também caiu, já que as pessoas estão sendo desencorajadas de sair de casa. Escolas, universidades e eventos públicos estão sendo cancelados. Até 13/03/2020, 151 casos da doença estavam confirmados no Brasil. Veja aqui.

Já se fala na possibilidade do mundo entrar em recessão por causa deste evento único, que o mercado costuma chamar de "cisne negro", de tão raro que é. Mas a questão prática que a pandemia do novo Coronavirus nos coloca é:

Como proteger os negócios diante de um cenário de crise, que pode causar a interrupção das atividades da Empresa?

A Gestão de Continuidade de Negócios (GCN) ou Business Continuity Management (BCM) é uma disciplina ampla que apresenta os conceitos e práticas que as Organizações devem adotar para enfrentar situações que se caracterizam exatamente como a que se apresenta por causa do novo Coronavirus:

  • Um evento de grande porte (sob a ótica da Organização), que tem o potencial de paralisar as suas atividades e interromper o fluxo de fornecimento de produtos e serviços aos seus clientes.

  • Um risco de negócios em relação a qualquer dependência relevante da Organização, seja um cliente, fornecedor ou outra parte interessada (vizinhos, sociedade, governo), ou ainda uma lei ou regulamentação compulsória para o setor.

Mas o que é Continuidade de Negócios?

Continuidade de Negócios = capacidade da organização de continuar a entregar produtos ou serviços em níveis aceitáveis predefinidos, após um incidente que cause interrupção.

Mas que tipos de incidentes seriam esses?

  • Um desastre natural

  • Uma situação grave de emergência

  • Um problema sério com um fornecedor

  • Um ataque cibernético em larga escala

  • Uma invasão terrorista

  • Uma crise externa


O tema passou a ter mais relevância após os trágicos eventos de 11/09/2001, que levaram à queda das Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Além da inestimável perda de vidas, empresas inteiras fecharam as portas – suas contingências e redundâncias estavam na torre vizinha.


Portanto, não é qualquer evento que caracteriza uma quebra de continuidade nos negócios; o evento precisa ser relevante, com riscos significativos para a Organização e suas partes interessadas. Quer ver alguns exemplos?





Todos estes eventos de grande porte exigiram das Organizações envolvidas medidas drásticas e respostas rápidas, priorizando o seguinte:

  • Preservação e minimização da perda de vidas

  • Redução dos danos à imagem da Organização

  • Respostas aceitáveis para a Sociedade

  • Recuperação das atividades afetadas


Nem sempre é possível recuperar as atividades a tempo de salvar o negócio. Por isso, ter uma Estratégia de CN é uma forma de as Organizações evitarem chegar a este ponto. Essa estratégia pode envolver mais ou menos recursos e ser mais ou menos eficiente, de acordo com o apetite de riscos da Organização.

A pergunta-chave a ser respondida é: Por quanto tempo a sua empresa pode se dar ao luxo de ficar parada?


A resposta a essa questão crucial vai determinar o tipo de estratégia a ser adotada. Por trás dessa pergunta, de resposta aparentemente simples, há um processo de análise de atividades e riscos que, no mundo da GCN, é chamado de BIA - Business Impact Analysis - Ou Análise de Impactos no Negócio. O BIA permite à Organização identificar atividades que, caso sofram interrupção, afetam a sua capacidade de continuar a prover produtos e serviços a seus clientes. Uma vez que essas atividades foram determinadas, avalia-se o risco de que elas sofram, de fato, interrupção. E a partir disso, são criados os objetivos, as estratégias e os planos de continuidade de negócios (PCN).

As estratégias de CN devem direcionar os recursos necessários para garantir uma resposta rápida da Organização em caso de ocorrência de incidentes que causem interrupção. Isso pode envolver apenas recursos internos ou, como é mais comum, mobilizar diversos parceiros e partes externas, desde fornecedores e clientes até entidades como Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Serviços Médicos de Urgência. Alguns casos podem requerer intervenção até de governos.

Por ser um tema delicado e estratégico, a GCN envolve, necessariamente, os mais altos níveis da administração da Organização.

CEO, CFO, CISO, Conselho de Administração, são tipicamente funções envolvidas. E cuidados devem ser tomados para que, no afã de minimizar custos com as estratégias de CN, atividades e riscos importantes sejam deixados de lado ou subestimados - levando à uma "volta forçada" ao BIA e à análise de riscos após um incidente real - e possivelmente o corte de algumas cabeças.

Para fazer frente aos riscos de CN identificados, as Organizações devem desenvolver, implementar e testar regularmente os seus PCN. Estes planos normalmente abordam temas como:

  • Atendimento imediato a uma emergência de grande porte, tendo como prioridade a preservação da vida

  • Comunicações entre as diversas partes envolvidas no incidente, tanto internas quanto externas

  • Ações de mitigação sobre as consequências do incidente

  • Necessidade de integração com planos regionais ou nacionais de avaliação de riscos

  • Alertas para as partes interessadas potencialmente afetadas por um incidente real ou iminente

  • Ações para retomada e recuperação das atividades

  • Ações para encerrar o incidente

  • Exercícios e testes regulares dos PCN

O PCN é resultado de um funil: primeiro se identificam atividades críticas para o negócio através do BIA; Para aquelas atividades consideradas críticas, avalia-se os riscos reais de ocorrência de eventos que podem causar interrupção; e sobre os riscos que podem causar interrupção, são desenvolvidos os PCN.




Por tudo isso, "disparar" um PCN não é atividade corriqueira: para se chegar ao ponto em que precisa ser acionado, a Organização deve definir um limiar a partir do qual este "disparo" deve ser feito.

A operação de um Plano de Continuidade de Negócios é portanto acionada quando a operação rotineira da Empresa sofre uma interrupção que leve à sua incapacidade de continuar fornecendo produtos ou serviços a partir de um critério pré-determinado pela própria empresa (a resposta para a pergunta: por quanto tempo posso me dar ao luxo de ficar parado)?


Nos exemplos de eventos e incidentes que demos anteriormente, houve empresas que foram melhor ou pior sucedidas em suas estratégias de continuidade de negócios. Certamente aquelas que possuem uma estratégia e planos de CN estruturados, resolveram mais rapidamente os seus problemas e retomaram rapidamente as suas atividades.


E aquelas organizações que, por qualquer razão, foram incapazes de encontrar alternativas para sair do fundo do poço provocado por um incidente de grande porte, fica a lição: Continuidade de Negócios é coisa séria.


Por sorte, existe uma abordagem metodológica consistente para estruturar a GNC nas Empresas.

Fazendo uma rápida analogia, assim como existe uma Norma ISO 9001 que dá requisitos para uma Organização agir no fornecimento de produtos e serviços nas CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão), existe a Norma ISO 22301, que ensina o que fazer quando a operação da empresa sai das CNTP (ou como gosto de falar, entra nas CETP - Condições Extremas de Temperatura e Pressão).

Assim, se a sua Empresa quer se defender dos imprevistos, evitando consequências mais graves diante de um cenário de interrupção dos seus negócios, é altamente recomendável que ela busque implementar a ISO 22301 - Sistema de Gestão de Continuidade de Negócios.


Temos visto nos últimos dias, especialmente esta semana, empresas brasileiras adotando medidas que se assemelham a medidas de mitigação de riscos relacionadas à CN, por conta do novo Coronavirus:

  • Cancelamento de eventos e apresentações para grandes públicos

  • Restrições de viagens para funcionários

  • Realização de trabalho remoto

Difícil saber se estas medidas fazem parte de um plano coordenado ou se são ações isoladas. Difícil dizer também se os impactos destas decisões foram avaliados contra uma lógica aceitável de CN. Mas o importante é que, pelos menos, as medidas parecem estar sendo tomadas antes que o surto alcance níveis alarmantes. A pergunta é: essas medidas foram tomadas cedo demais? (o tal limiar). Elas são adequadas e suficientes? Não há respostas fáceis para isso.


Só nos resta trabalhar e torcer para que o PCN global resolva rapidamente esta crise relacionada ao novo Coronavirus.


Quer saber mais sobre a ISO 22301? Fale com a Bushidô Business Academy.

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